sexta-feira, 30 de novembro de 2007

História nº 1: Cabra Gazela

Ilustração: Iolanda Ferreira

Havia uma cabra que tinha sete chifres e três cabritos. Sempre que ia ao monte comer ervas recomendava aos seus cabritos para que, enquanto estivesse fora, não abrissem a porta a ninguém excepto a ela. Quando regressava a casa a cabra vinha com o peito cheio de leite e ervas enroladas nos chifres para alimentar os seus filhos.
Um dia, quando a Cabra foi ao monte, o Lobo foi a casa da cabra fingindo que era a mãe dos cabritos e eles abriram-lhe a porta. O Lobo perguntou aos cabritos se estavam sozinhos em casa e eles responderam que sim.
Ilustração: Alina Moreira

Quando os cabritos perceberam que não era a mãe deles ficaram muito assustados e o Lobo, tentando ser simpático, aproximou-se dos cabritos dizendo-lhes para não ficarem com medo pois ele era como se fosse a mãe deles. Por fim, acabou por comê-los todos. Quando a Cabra regressou bateu à porta, não ouviu os seus filhos a chorar e percebeu que não estavam lá e que tinha acontecido alguma coisa. Entretanto o Lobo, todo vaidoso, foi ter com o seu sobrinho Chibinho, e disse-lhe que tinha conseguido enganar a Cabra porque tinha comido os seus três cabritos e que quando ela voltasse não ia encontrar ninguém em casa.
Ilustração: Ana Sofia Lopes

Mais tarde, a Cabra foi ter com o Chibinho e explicou-lhe o que aconteceu. Pediu ajuda ao seu amigo para descobrir quem lhe teria feito aquilo. O Chibinho contou-lhe que tinha sido o Lobo a comer os cabritos. A Cabra pediu então ao Chibinho para a ajudar a recuperar os filhos. Este teve a ideia de fazer uma festa na casa do compadre dele para ajudar a apanhar o Lobo.
Ilustração: Ana Sofia Lopes

Rapidamente organizaram uma festa e o Chibinho disse à Cabra para ir vestida com sete saias, sete blusas e sete lenços na cabeça e que também ia dizer ao Lobo para vestir sete calças, sete camisas e sete chapéus. Todo vaidoso, o Lobo aceitou o convite e mostrou-se muito animado com a festa.

No dia da festa, no meio de tanta dança, a Cabra aproximou-se do Lobo e começou a cantar:

"Maria, Maria, tua mãe, Madalena, sai fora e vem me tirar leite desta mama e as ervas dos chifres".
Ilustração Ana Francisca Lopes

O Lobo, também vaidoso e a dançar, cantava dizendo que tinha conseguido enganar a Cabra porque comeu os três filhos dela. À medida que o Lobo e a Cabra cantavam iam-se despindo. O Lobo ia tirando uma a uma as calças e as camisas e o chapéus enquanto a Cabra ia tirando as sete saias, sete blusas e sete lenços. Notando que ela tinha uma figura estranha, o Lobo começou a perguntar porque é que ela tinha os pés daquela maneira e tanto cabelo. A Cabra respondeu que os seus pés eram mesmo assim e que realmente tinha muito cabelo. A Cabra continuou a dançar e a cantar. Quando o Lobo percebeu que era mesmo a Cabra tentou fugir, enquanto esta o ia atacando com os chifres. Disse ao Chibinho para lhe abrir a porta porque estava aflito para ir fazer chichi e cócó. O Chibinho respondeu que não podia abrir a porta porque não tinha as chaves e que tinha deitado fora tal como o Lobo lhe tinha pedido quando estava muito animado com a festa. A verdade é que o Chibinho tinha fingido atirar a chave fora e o que mandou foram pedaços de um caldeirão de ferro. Enquanto isso, a cabra continuava a dar chifradas na barriga do lobo até que conseguiu arrebentar a barriga do Lobo e os cabritos saíram logo para alimentar-se no peito da mãe. O Lobo ficou todo aberto no chão e morreu enquanto a Cabra foi para casa muito contente com os seus filhos.

Ilustração Vilma Sanhá

Narrada por D. Maria, a avó do Zeca Semedo, em crioulo de Cabo-Verde, e traduzida em português pela D. Antonieta.

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